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Florestas e rastros de destruição contam história do Brasil em novo livro 1o715y

As 320 páginas de Uma História das Florestas Brasileiras (Autêntica), de Zé Pedro de Oliveira Costa, contam mais do que o título indica. Isso porque a história das nossas florestas é também a história do Brasil, de como os habitantes dessas terras se relacionam com as matas desde antes da chegada dos portugueses e de como, depois disso, a exploração que exaure as florestas nunca parou. Do primeiro ciclo econômico que extinguiu as árvores que deram nome ao País aos motivos para preservar o que ainda temos, há duas leituras possíveis: a do que fomos e somos, e a do que podemos ser.

O autor conta a história das consequências da devastação imposta por um modelo de desenvolvimento utilitarista que apartou o homem da natureza, como a tirar sua responsabilidade dessa interferência. Ao mesmo tempo, aponta caminhos para um futuro mais promissor, em que o respeito aos indígenas e ao meio ambiente podem andar ao lado do desenvolvimento. Para isso, no entanto, chama a atenção para a necessidade de ações imediatas de preservação e alerta para a emergência das mudanças climáticas.

A noção de desenvolvimento também é colocada em xeque na narrativa das florestas brasileiras. A imposição do modelo colonial, que se estendeu para o Brasil independente e alcançou o século 21, em que a expansão é resultado da exploração dos recursos naturais, é questionada ante a constatação de que não só privilegiou minorias como legou a destruição e a pobreza para a maioria da população.

No capítulo em que trata das consequências do ciclo da cana-de-açúcar, Zé Pedro escreve: "O que a exploração da cana nos deixou como herança foi um Nordeste espoliado de suas riquíssimas matas, solos empobrecidos e uma população em grande parte miserável, muitas vezes servil, possuidora apenas de sua cultura popular e da humildade e humanidade que só muitas gerações de sofrimento podem ensinar".

Cidades mortas

O Ciclo do Café, que enriqueceu barões no Vale do Paraíba, também é abordado a partir de suas consequências. Monteiro Lobato, filho e neto de fazendeiros de café dessa região, criou a expressão "cidades mortas", que mostra como a ocupação ocorreu no local. Um dos motivos estava na forma como o cultivo do café era feito. Ao primeiro sinal de esgotamento do solo, as plantações migraram para outro local, restando um solo degradado e que acabava sendo transformado em pasto.

Zé Pedro tem longa trajetória ambientalista. Natural de Taubaté, no interior de São Paulo, foi professor da FAU-USP por mais de 40 anos. Foi também o primeiro secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e, por duas vezes, secretário nacional de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, responsável pela criação e implantação de diversas áreas de conservação ambiental.

Uma História das Florestas Brasileiras tem depoimentos de Dráuzio Varella, Fernando Gabeira, Sônia Braga e Fabio Feldmann. Além de três fotos que ilustram desde o dia a dia dos povos indígenas à exuberância das matas brasileiras, a capa é assinada por Sebastião Salgado.

O livro chega à minúcia de trazer o histórico da legislação ambiental brasileira. Desde 1934, quando o primeiro Código Florestal foi decretado, durante o governo de Getúlio Vargas, as leis que defendem o meio ambiente no Brasil eram consideradas boas para a época. O mesmo decreto também criou a Polícia Florestal, responsável por garantir a aplicação das leis, a aplicação de multas e sanções, e do Conselho Florestal, que tinha como objetivo difundir em todo o país a educação florestal e a proteção à natureza.

Um problema recorrente, no entanto, atravessou o caminho que poderia ter sido seguido. "Como se vê, trata-se de uma legislação bastante evoluída e complexa, assim como os demais códigos nacionais. O principal problema é que quase nada dela se cumpriu, o que aponta para uma desconexão das normas com a realidade", escreve Zé Pedro.

A leitura que Uma História das Florestas Brasileiras terá no futuro a por esse histórico nacional de desconexão com a realidade ambiental. Se isso ficar no ado, o País pode ter um futuro.

Serviço

Uma História das Florestas Brasileiras

Autor: Zé Pedro de Oliveira Costa

Editora: Autêntica (320 págs; R$ 87,90)

Fonte: Estadão Conteúdo
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