01/02/2023 17h40
Relatos são de 30 meninas Yanomami grávidas de garimpeiros, diz secretário 1m1yd
Secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Ariel de Castro Alves afirmou que a comitiva do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania recebeu informações de que ao menos 30 meninas e adolescentes Yanomami estão grávidas de garimpeiros. Segundo ele, também foi relatado haver seis crianças acolhidas irregularmente por famÃlias não Yanomami (com dois processos de adoção irregular em andamento). Um grupo da pasta está em Boa Vista para reunir dados sobre as denúncias de violações de direitos.
"Temos denúncias de exploração sexual infantil. Recebemos informações de pelo menos 30 meninas e adolescentes que estariam grávidas de garimpeiros. Temos informações também sobre acolhimentos de crianças Yanomami que seriam irregulares e até processos de adoções ilegais em curso", disse, em entrevista à Rádio Eldorado.
As denúncias foram feitas pelo Conselho IndÃgena de Roraima (CIR) e os casos são acompanhados pela Fundação Nacional dos Povos IndÃgenas (Funai). "Pedimos mais informações ao Conselho IndÃgena de Roraima para podermos ter os nomes das jovens e requisitarmos apurações dos possÃveis estupros de vulneráveis para a PolÃcia Civil de Roraima, para a PolÃcia Federal e para o MPF (Ministério Público Federal)."
Em relação aos acolhimentos irregulares, segundo ele, tratam-se de seis crianças. "Duas situações já estariam em curso: processos de adoção de crianças Yanomami por famÃlias não Yanomami, em que, segundo as entidades Conselho IndÃgena de Roraima e Hutukara, estariam ocorrendo arbitrariedades e irregularidades", afirmou. "Estamos aguardando que os advogados das entidades nos encaminhem maior detalhamento dos casos."
Alves destacou haver preocupação com a presença "muito grande" de garimpeiros na área - as estimativas apontam cerca de 20 mil, em um território de aproximadamente 30 mil indÃgenas. "Impedir o garimpo ilegal é a principal questão para garantir a vida dos povos Yanomami."
Segundo o secretário, eventuais ações de incentivo do garimpo ilegal - o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era um defensor da flexibilização das regras de mineração nas reservas indÃgenas- e omissões da gestão anterior também são apuradas.
"O governo federal anterior recebeu várias denúncias, mais de 20, tratando do garimpo ilegal e das violações de direitos humanos contra os povos indÃgenas, e não teve atitudes visando a evitar essa situação", afirma Alves. Nas redes sociais, Bolsonaro disse que a emergência na saúde Yanomami é uma "farsa da esquerda" e que a saúde indÃgena foi uma das prioridades da sua gestão.
Mineração ilegal leva drogas e bebida a comunidades
O relatório Yanomami Sob Ataque, de 2021, realizado pela Hutukara Associação Yanomami e pela Associação Wanasseduume Ye'kwana, que trata da evolução do garimpo ilegal na terra indÃgena, já havia falado sobre relatos de exploração sexual das meninas e mulheres Yanomami.
No polo do Rio Apiaú, por exemplo, segundo a publicação, a introdução de bebidas alcoólicas e drogas deixa as comunidades ainda mais vulneráveis aos garimpeiros. "Um garimpeiro que trabalha na região certa vez ofereceu drogas e bebidas aos indÃgenas, e quando todos já estavam bêbados e inertes, estuprou uma das crianças da comunidade", diz o relatório, que também menciona o espalhamento de doenças sexualmente transmissÃveis.
"Os garimpeiros estupraram muito essas moças, embriagadas de cachaça. Elas eram novas, tendo apenas tido a primeira menstruação", afirma uma indÃgena no documento.
Fonte: Estadão Conteúdo